quarta-feira, 10 de abril de 2013

Estimar

Estimar (latim aestimo, -are, fixar o preço ou o valor de, avaliar, apreciar, considerar) v. tr. 1. Ter em estima ou em estimação. 2. Folgar com, sentir prazer por. 3. [Marinha] Fazer a estima. Estima s. f. 1. Apreço em que se tem a outrem. 2. [Marinha] Cálculo, por conjectura, do caminho que o navio tem andado, e do local onde se encontra.

Começou por uma ponta sem nó nem fim, atando os dedos mudos ao rastreio do caminho à pele que faz som do meu ar, que das vontades irresolvíveis, de dias a fio desfiado, ficou a boca costurada beirando dizer três palavras, que para dizê-las tiro em delírio cada roupa, sussurro feroz, pausada e veemente, aperto os olhos incrédula, desmancho, e beijo comprazida teus ouvidos mais altivos. Seguinte:

Você é alguém.

Mas não valeria dizer a ouvido de concha. Eu sei que os teus buscam mares mais-além; e eco mais sigiloso, mais candoroso, efervescente, te sobe a pele ao me ouvir chamar assim? Quando atino a derramar, de seda morna, escorro abaixo e rasgo pelo meio do caminho, de aspereza, apenas eu tentando ver pelas frestas. Em exercício de comedimento: noites irresolvíveis, em que eu escrutaria sempre sigilosamente pelo comprimento de onda preciso que me fizesse eco, frêmito cintilante do meu ao teu, sem que eu proferisse a beira mais fraca e igualmente tenaz do que intuo ser. Certeza maior permanece ainda insuspeita no mundo. Te parecerá apenas eco, conjunto lato dessas minhas certezas oblíquas que mando por decreto, roupa de baixo, dedos, ópera, lábios e fatos oníricos, mares com ilha no meio e casa perdida e amor sendo feito. Que sim, um dia acordei e o mundo se encerrava no metro de cama que me fizesse indivisa de ti, e enfim a interferência nenhuma trazia aos olhos o tempo para que tu vivesses o maior sorriso. De pouca importância seria inclusive a minha presença: que eu apenas soubesse da tua liberdade de alma que, quando alça vôo, me atinge em cheio o rosto queimando como a brisa mais suave, aparamétrico, potência em sopro da mera instância das tuas mãos. Alguém para muito. Que a minha voz -- de um morno-terra anafilático, tentando inundar com as poucas (e infinitas) certezas os quebradiços entretidos, a fim de que não visses em muito relevo as minhas rachaduras -- se rompesse entregue na tua, irresolvível, e eu me engalfinhasse tanto mais com outros trios de palavras exigentes também de muito ar no peito e afinco nos pés. Que, para querer dizê-los, basta aquele instante heróico em que pressinto forças de imponderável direção deliberando e revolvendo dentro do corpo, em antecipação às ondas que me hão de sirgar sempre a todo vapor para mais dentro e fundo em ti. Envelheci de repente ao mero considerar os trinta anos que ainda não tenho, tão proféticos e distantes de ti. Para te conhecer, queria ter ao menos trinta.