sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Cachinhos

Quando nos conhecemos, tínhamos pouco ou quase nenhum cabelo. Sedução. Quando eles despontaram, virei ternura. Intimidade. Eu cabia na palma da tua mão. Ali me achava protegida. Quando fui ao chão, o coração ficou contigo. Raiz e caule crescendo para ficar da tua altura. Resistência. A vista debaixo era outra. Eu estava prestes a florir quando me cortaste. Temor. De onde estive, não vi teus movimentos de fogo, água e ar. Quando te dei frutos, das cinzas, vi o mundo desertar, e fiquei subterrânea. Fragilidade. E os cabelos caíram sobre os olhos, meus e teus, desencontrados. Há muito tempo não vejo com clareza. (Lente do amor.) Se me vens, espio para fora, e tudo é fora de alcance. Anseio. Se o inconsciente ousa delirar com o toque, na minha boca de terra. Com o sonhar de cabelos derramando na face, enchendo as mãos e o aroma. E olhos bem fechados, de (pu)dor. Saudade e perda. Lama, lava, redemoinho, e tudo que, para mim, é demasiado, e a ti, insuficiente. É a palavra que eu nunca mais vou ouvir. Suave e bela.