terça-feira, 30 de julho de 2013

Estabilidade

Let's lament together that someone
could take you out of your mirror. Can you still cry?
You can't. You transformed the force and urgency
of your tears into your mature gaze
and were just on the point of turning all your
body's juices into a powerful existence,
which would rise and circle, trustingly, in equilibrium.
(Rainer Maria Rilke)

Senti chorar em seco. Não como se me houvesse gasto, mas como se não cresse na debilidade de minhas forças diante do que fere. Como se me repreendesse por ser ferida. Como se não acreditasse em quanto tremem minhas palavras ao som das dele, já se ele fosse, assim de perto, da minha altura, e não um abismo infinito. Se entre grande e cheia de poder existe, dentro, essa debilidade tão mais esmagadora, que me esmiúça, desfaz, constrange em solidão, que valor tem o olhar maduro, seco, pleno de certeza? Porque é uma certeza falha, jovem, inocente, despreparada? Vamos juntos. Depois de tantos passos diante do espelho, começo a confiar. Nele, em mim. Se ele me tira deste reflexo, é quando enfim vejo. Pensava que era diferente. Agora vejo que apenas demorou a ser igual. E esse igual é o que mais ainda, de novo, reconcilia-me comigo. Sou circular e coerente. Os sucessos se repetem, multiplicam-se, e, igualmente, as falhas vêm despontar. O amor que dou retorna todo a mim, fortificado. A minha falha se redunda e arredonda e abunda pelas frestas de tudo que ainda não sei administrar. Que imagem construo diante dele? Se ele enxergasse o todo, me projetaria? Esse senso de projetar-me ao longo dele, como se fosse um ponto de fuga da pintura, meu ponto de apoio. Que dantes poderia bem ser o nada, o incerto, o futuro, a incompreensão, a solidão pura. Mas vem do amor, do sentimento profundo. Que me transforma e reverbera. E como o senso de urgência se vai firmando nisto. E o senso de equilíbrio se vai moldando sobre este solo, minha terra de vida, minha permanência máxima. E a vida pulsa e vibra, circular e ascendente, como se eu fosse romper para fora de mim, almejada solidez de raiz. E movimento puro. Neste ponto, os dedos dos pés, os dedos das mãos - já não sustentam, e eu preciso segurar sua mão. Ele me dá a mão, mas repetindo sempre a sombra do tempo. O que foi e o que será. Eu entretida de juventude. Agora, sou toda a força que me vem de ter esta mão. Ah, as mãos. Se ele visse o ar que se levanta entre elas quando fala, a energia, ele que fala pelas mãos e entre elas, e a voz tão firme que ressoa por entre os gestos, da firmeza mais delicada já vista, que queima nos olhos, querendo romper o meu maduro seco, para dar àquelas mãos de verbo encantado o pranto mais apaixonado que este mundo já viu. E, quando tudo ficasse bem exagerado, irracional, faria mais uma respiração profunda e mentalizaria: vá, acredita firmemente que te basta em ti, e assim não pedirás ao mundo mais do que se oferece. Mentaliza que essa força é toda tua. E só agora dele, porque vamos juntos. Porque vamos juntos, quero dois inteiros; dois inteiros unidos, fortificados. Porque vamos juntos.