terça-feira, 18 de junho de 2013

Liberdade

Será incorrer no fatal: entre a via do que se supõe eterno embora não sempre efervesça, e a via do que se supõe fugaz embora liqüefaça cabalmente; o perpétuo de se desfazer e desnudar pelo ardor sublime e renitente, intermitência e fremir; a verdade de sempre, e a verdade dura. A vertigem e a fé. Qual minha via real? Qual a via espessa, e qual a vazia? Qual a torta, qual confiança? Que liberdade posso ter com os dois pés unidos em concha e firmes no chão? Que certeza pouco eterna? Talvez uma terceira via, indistinta, inafetável, nas pontas dos pés eternamente? E nas pontas dos dedos, quando sinto beirar, despejar, percorrer a superfície de uma liberdade mais viva e mais ardente? Depois da infusão? Colher nas mãos em concha, dessedentar, assim de tanto que eu já não me baste sem incorrer nesta água, até perder-me de todo na via mais espessa de amar, até que fora dela não me sinta livre?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Colheita

Se eu precisar de quatro estações para me recompor do pó? Desabrochar e desvanecer, fraquejar, resfriar, ressecar, arder, dessedentar. Botão de flor. Se eu mirar a dose temporal do mundo, percorrer a via, fizer translação do meu afeto, fizer círculo completo, percalçando as bordas e plantando começo junto com fim, cultivo diário, deixar-me espalhar em semente no vento, querendo fazer (h)era, anti-estacionária, mas secretamente fazendo minúcia das variações? Desabrochei. Desabrochei de novo, desabrochei de dentro pra fora do amor, de fora pra dentro murchei e desabrochei de novo, enterrei bem a fonte da desunião no peito e a ela me recolho pela manhã e pela noite, meu templo de paz. Busquei-o de dentro pra fora, de fora pra dentro. Então, vieram fogo, água e ar. Exatamente o que ele é: as estações. Uma a uma, destruição e amor. Arder, dessedentar, tomar fôlego. Enterrei-me bem nele, desabrochando firme sem escusa de luas. Dos olhos escuríssimos, Púrusha cristalino. A cada dia mais distante do fogo último, a cada dia mais perto do fogo próximo? Do turvo à limpidez: permanência máxima, minha terra, terra, terra.