terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Vaga

Há tanto tempo disto do teu beijo que já não posso imaginá-lo. Embora tanto habite este anseio, embora proferidamente saudosa; eu já não posso intui-lo. Tão vaga estou, em tuas lonjuras. Recolhidas. Cantos que se perdem, pois não conheço a minha voz aos teus ouvidos. Todavia, recordo em perfeito o que o teu beijo fazia, a sensação vívida, esta que é farta, e era infinita, de quando, ora acanhada, meu medo em mim se desfazia na tua boca, vibrando, pendendo, tombando, logo derretendo, incendiando, como se eu fora conhecida. O momento preciso em que a antecipação virava entrega. Em que a minha timidez se dissolvia no teu hálito, suavemente, incorporando o agudo úmido incêndio que entre os corpos se fazia, em consoante ritmo. E sobretudo, quando penso em ti, é mais ainda recordar teu grande corpo que, envolvendo-me, a desilhar-me, fazia uns nós, me desatava, porque era sobretudo a tua voz, que ali me revelava, a razão, eu, situada no limite do teu corpo, a emoção, que ora me conduz por todo este tempo que nos separa. E se estou assim, desatinada por uma voz. Estou mesmo desatinada.

sábado, 12 de janeiro de 2019

Estou pedindo licença para sentir?

O vivido contigo, pouco e exato, até aqui, basta para que eu admita ter na boca um gosto palpável de querer-te? "A espera é sentir-me voraz..." O vivido comigo, vasto e incompossível, até aqui, não me impede de, no entanto, pensar que tantas vezes é palpável o gosto de desejar, ardentemente, uma vida que não é minha? "Examino-te sôfrega..." Uma vida em que a paixão acontece sem pedir licença. E a intuição não me estremece, nem abala, só firma os pés, que voam, asas! Porque é o que as mãos pareciam. E os cinco sentidos sedentos. O que exatamente eu preciso frear em mim mesma para não doer? E onde, como extravasar o certeiro sentimento? Entre quatro paredes estou emudecida.